Feeds:
Posts
Comentários

Posts Tagged ‘Mahhal’

Meus Contos: Clarisse


 

Ela tinha 14 anos, bem criada e amada pelos pais, mais bonita não se via, cabelos lisos louros, uma cor loura original, em extinção, pois hoje, a grande maioria, ou melhor, uma esmagadora maioria, se passa por louras de farmácia. Seus cabelos eram lindos, chegavam até um palmo abaixo do meio da linha das costas, olhos cor de mel, não tinha olhos claros, como se faz critério de beleza hoje, seus olhos de mel davam uma beleza ainda mais rara, pele alva, traços finos e bem definidos, boca levemente carnuda de tom avermelhado, ela era um pouco mais altas que as meninas de sua idade, não eram nada incomuns as vezes em que perguntavam a ela se praticava esportes como vôlei ou basquete.

Clarisse era uma garota muito alegre, contagiante, todos se sentiam felizes ao seu lado. Estava ela se preparando para as comemorações de seu aniversário, seu pai já preparava a grande festa, ela decidiu um baile de arromba, em vez de uma viagem com as amigas, ele alegrou-se quando ouviu isto, e tratou de fazer a festa sem medir esforços.

Seu pai era um homem muito bem considerado na cidade, cidade pacata, tinha cerca de uns 30 mil habitantes, ele era o munícipe mais respeitado, se alguém quisesse ser prefeito na cidade ou conseguir algo na política, tinha de passar por seu aval, os candidatos a deputado da região iam sempre visitá-lo para terem ganho de moral na cidade e redondezas. O senhor Eustáquio, era seu nome, herdou fortuna de seu pai, que herdou de seu avô, avô este que era o dono de quase todas as terras de onde foi criada a cidade, então ficou Eustáquio herdeiro único, pois não tinha irmãos, ele era dono do jornal da cidade, da rádio, de duas padarias e de um salão de eventos, o mais chique da cidade, fora as fazendas, cavalos, gado, típico de homem rico de cidade interiorana, teve ele dois filhos, um chamou-se Roberto, quando nasceu foi o grande orgulho do pai, ele escolheu seu próprio nome, sim, escolheu, seu pai escreveu dois nomes, num papel escreveu Roberto e no outro escreveu Carlos, na ocasião a criança chorava sem parar, ele chegou perto da criança e lhe mostrou o primeiro nome, apontou aquela folha de sulfite escrito Roberto, com um canetão vermelho, a criança arregalou os olhos para o papel e parou de chorar, o pai mostrou depois outro com o nome Carlos, e a criança voltou a chorar, ficou assim registrado Roberto.

Roberto já tinha 6 anos quando nasceu sua irmã, ele não gostou muito, ficava enciumado, coisa de irmão mais velho, mas quando cresceu, era ele a cuidar da irmã, não deixava nenhum rapaz se engraçar com ela, era seu protetor, o garoto era meio arrogante na escola, diziam, mas ninguém duvidava do amor que tinha pela irmã, e da tamanha proteção que dava.

Não podemos esquecer de Dona Sueli, mãe de Clarisse, uma mulher que, quando jovem, era a mais bela da cidade, ganhava todos os concursos de beleza de sua cidade e sempre era ela a garota propaganda da festa anual de agropecuária que lá acontecia, era muito pobre, mas, por ser tão linda, não podiam passar em branco as vistas do então jovem Eustáquio. Casou-se com ele, dizem que “de barriga”, Sueli era uma felicidade só em sua juventude, mas ultimamente tinha apenas um olhar triste e distante, era como se estivesse doente, Eustáquio se lamentava pelos bares dizendo que sua mulher virou uma mulher que sofre de depressão, mas ela sempre tinha os cuidados atentos e carinhosos de Clarisse.

Clarisse sempre estava lá cuidando de sua mãe, abrindo as cortinas de seu quarto nas manhãs, fazendo piadas para lhe alegrar, fazia de tudo esta menina para sua mãe.

Neste dia fazia Clarisse 15 anos, acordou com um belo café da manhã, com visitas de suas amigas, ela era só sorrisos, e ria de tudo, ria de tudo mesmo, se não fosse por ela ser bem criada e bem acompanhada em sua criação por seus pais, poderia se dizer que ela estava drogada, nem suas amigas lembram de terem visto ela tão feliz e abobada assim.

Ela passou o dia todo com a companhia de suas amigas, foram ao clube, nadaram, comeram no restaurante da Associação dos Desportos, beberam batidas de coco e conversaram sobre as várias histórias de suas infâncias em comum.

Clarisse passou em casa, disse que iria se arrumar para seu baile na casa de uma amiga e se foi.

Já era noite, o salão de festas da família estava um luxo só, decoração básica de baile de quinze anos, porém com bem mais glamour, tudo estava perfeito, as pessoas mais importantes da cidade e cidades vizinhas foram à festa, chegava estar lotada de tanta gente, todos esperavam ansiosamente pela chegada de Clarisse. Já demorava mesmo, sua família já estava preocupada, seu pai mesmo mandou seus empregados procurá-la.

Quando todos já começavam a cochichar sobre o que poderia ter acontecido com Clarisse, viram um vulto coberto de capa preta chegando junto ao dj da festa, o dj mostra uma cara de pavor e lhe entrega um microfone, desliga a música sertaneja brega que tocava e deixa a mesa de som, se afastando. Cai a capa e as pessoas olham impressionadas para uma garota sem nada de cabelos, olhos vermelhos com uma coloração negra, como uma sombra mal passada e borrada, mas não era uma coloração provocada artificialmente, a menina vestia um vestido rosa, todo sujo, rasgado e pequeno para seu corpo, o vestido deixava um de seus seios a mostra, dava para se ver que o tecido estava com bastante sangue seco, olhando bem para a menina, todos, depois do impacto, notaram que aquela era Clarisse, quase irreconhecível, correram seguranças para cobri-la com algo, seu irmão mesmo saiu como um míssil ao seu auxílio.

Naquele momento em que todos correram para protegê-la daquele constrangimento, ela levanta a mão, que estava coberta pela sua capa preta, para cima e dá um tiro, sim, um tiro, ela estava com um revólver carregado, era um básico 38 prateado, e sabia atirar, em uma mão um microfone, em outra uma arma, ela ecoa sua voz pelo ambiente, onde todos estão pasmos e meio agachados por causa do medo de levar uma bala, de sua voz sai: “calados! Eu quero falar, e vocês irão me ouvir!”.

Não se ouve mais um bochicho sequer, todos queriam saber o que iria dizer aquela que foi a maior princesa que a cidade já teve, herdeira com honras de sua mãe.

E começa ela a dizer: “vocês todos estão aqui para a minha festa de quinze anos, para a minha festa, melhor oportunidade eu não teria na vida como esta que estou tendo aqui, sei que vocês não sabem, a não ser minhas amigas, até os meus doze anos este era meu vestido preferido, foi presente de minha mãe, eu queria muito ele, ela me deu, mais bonito eu não tinha visto, acho que minha mãe me fez este agrado para que eu não ficasse tão chateada com as carícias incômodas que meu pai me fazia, com as vezes em que eu ficava muito irritada quando meu pai abria a porta do banheiro para me ver tomar banho, até esqueci um pouco de meus problemas com este vestido, mas não durou muito, eu tinha doze anos e, um dia, meu pai chegou em casa e me pediu para tirar a roupa, e eu usava este vestido, eu disse que não tiraria, ele veio e me deu um tapa no rosto, minha mãe ouviu e correu ao meu socorro, ele deu um soco no estômago dela, chutou suas pernas, pegou-a pelos cabelos e levou até o quarto onde passou a chave, veio até mim, que chorava desesperada, me deu mais outros vários tapas na cara, acabou quebrando meu nariz, eu sangrei muito, muito mesmo….” a menina contava estas barbaridades chorando muito, mas tomando muito cuidado para que todos entendessem muito bem o que ela dizia “…. e ele me violentou, ele tirou minha virgindade, meu próprio pai, meu maldito pai, ele me comeu durante horas, gozou várias vezes em minha cara, em minhas costas, ele parecia um cão raivoso, me comia e me batia, ele se cansou, começou a chorar e saiu correndo, só ouvi o som da Ranger saindo a mil, eu estava em estado de choque, toda desgraçada por Deus no chão da sala, e chegou meu irmão, não foi, Roberto? Ele me viu lá naquele estado, me olhou com enorme cara de susto, veio me abraçar, começou a dizer que tudo iria passar e que me amava, começou a acariciar meus seios, me masturbar, e eu, sem voz de tanto gritar, dizia: não, por favor não, ele não deu a mínima, ele chorava também, mas tirou a roupa e abusou de mim também, não me bateu, nem precisava eu não tinha nada de forças, meu irmão também me desgraçou, e neste dia eu estava com este vestido”.

O povo estava boquiaberto, era difícil assimilar aquelas sandices todas, era muita bizarrice para poder ser verdade, as pessoas começaram seus bochichos novamente, olhando para Eustáquio e Roberto que choravam muito.

Susto! Um novo tiro para cima, e voltou o silêncio, Clarisse volta a falar: “pai, Roberto, venham até aqui”. Os dois olham entre si, temerosos, mas vão até ela. “Ajoelhem-se!”Eles ajoelham. “Não eram este corpo que vocês queriam?”. Ela tira a roupa toda e ficou toda nua no salão. “Eu não sou cristã, mas quero muito, de todo coração, que vocês se fodam com o capeta!” E ela atira na cabeça de seu pai e irmão, as pessoas gritam assustadas, correm para fora, como a festa estava lotada, pessoas são pisoteadas sem dó, mas mesmo assim o salão começa a esvaziar, Clarisse pega seu 38, enfia em sua boca apontando rumo ao seu cérebro, começa a chorar como uma criança, e aperta o gatilho.

Correções de Thais Simas Machado.

Read Full Post »

Senhoras e Senhores,

 

Devido ao meu antigo blog não aparecer em nenhuma pesquisa do Google, estou tentando este novo agora, vamos ver no que dá, amanhã já farei um post bem massa para todos, até a próxima.

 

Mahhal - Maratoma 2005 Unesp Franca

Read Full Post »